Sobre a série: Conversas com uma I.A generativa no seu modo mais crítico e provocativo
Gostaria de explicar a minha motivação para promover essa série de conversas que estou travando com uma I.A no seu modo mais provocativo, ousado, crítico e menos bajulador sobre o futuro do ensino de engenharia e suas incertezas.
Frederico César
7/27/20254 min read


Alguns anos atrás, uma grande amiga, a professora Isabela Morais, compartilhou comigo um problema que uma startup, de um amigo dela, estava tentando resolver. Essa startup analisava diversas disciplinas de cursos na área de tecnologia para identificar quais poderiam ser automatizadas e ter seus professores substituídos por uma plataforma de ensino. Isso foi há mais de 10 anos e, desde então, fiquei intrigado com esse problema.
Minha primeira reação foi: “A aula que eu dou, do jeito que eu dou, é impossível de ser automatizada e ofertada com a mesma qualidade por uma plataforma de ensino.” Essa minha certeza durou apenas alguns minutos. Ao refletir um pouco mais, senti um profundo incômodo ao perceber o quanto da aula que eu ministrava poderia, sim, ser replicada por um sistema autônomo. E veja que, em 2015, a performance da I.A. estava muito distante do que ela é capaz hoje.
Percebi que o conteúdo que eu transmitia, da forma como eu transmitia, poderia ser facilmente produzido por um algoritmo. Fiquei frustrado, pois eu amava preparar as apresentações para as aulas e amava ainda mais palestrar e explicar o conteúdo que havia preparado. E percebia, pelo olhar e pela presença dos alunos e alunas, que eles também gostavam. Não é falsa modéstia: eu tinha uma boa didática, desenvolvida ao longo de 10 anos lecionando física em grandes pré-vestibulares antes de seguir a carreira universitária. Desde os meus 20 anos eu dava aulas.
A decisão de dar aulas surgiu de uma provocação pessoal: eu queria ensinar aquilo que tive dificuldade em aprender de forma clara, para que ninguém precisasse enfrentar a mesma barreira que eu enfrentei. Ao estudar física, descobri que o problema não era a física, mas a forma como ela era ensinada e apresentada aos estudantes. Por isso, escolhi dar aulas de física.
Então, em 2015, lá estava eu, questionando tudo o que tinha construído como professor. Hoje vejo o quão corajoso fui: aceitei questionar aquilo que eu acreditava fazer bem. Essa postura me levou por caminhos inimagináveis. Permitiu destruir todas as minhas certezas e convicções. Imerso em dúvidas e incertezas, busquei encontrar uma aula que não pudesse ser substituída.
Com a pandemia, em 2020, essa busca se tornou ainda mais urgente e crítica. Aulas que eram impensáveis de serem dadas remotamente tiveram de ser oferecidas à distância. Surgiu então um questionamento lógico: “Como serão as aulas quando retornarmos ao presencial?” Havia uma expectativa de revolução no sistema de ensino, pois eu precisaria justificar a presença física de alunos e alunas em sala de aula. Uma aula meramente expositiva, feita com slides ou anotações na lousa, poderia — como foi provado — ser realizada remotamente.
E o que aconteceu? Voltamos, em grande parte, às aulas expositivas.
Consequência: uma onda de frustração dos estudantes com o modelo de ensino das universidades. Vivemos hoje um problema crítico no ensino superior brasileiro: a falta de engajamento e motivação, tanto dos docentes quanto, principalmente, dos discentes. Isso tem sido uma das causas de um fenômeno complexo, ainda em estudo, que envolve aumento da evasão e baixa procura por alguns cursos nas universidades públicas, especialmente nos campi avançados. Como disse, trata-se de um fenômeno com múltiplas causas, mas ouso supor que uma delas está relacionada às metodologias de ensino.
Por isso, desde o retorno da pandemia, resolvi testar novas formas de ensinar e dar aula. Como sou uma pessoa inclinada à inovação radical, tento quebrar qualquer padrão imposto, me permitindo experimentar e testar novas técnicas e formatos. Busquei inspiração no passado, em modelos como o da Escola da Ponte e seu idealizador, o professor José Pacheco. Sigo também o gênio da educação brasileira — e ainda pouco compreendido entre nós —, professor Paulo Freire. É impressionante como sua filosofia está totalmente alinhada ao que há de mais avançado nos estudos de Neuroeducação.
Graças aos meus filhos, também pude conhecer outros gênios da educação, como Maria Montessori, Célestin Freinet, John Dewey, Rudolf Steiner, Lev Vygotsky, Jean Piaget e Darcy Ribeiro. Todos esses educadores foram contestadores, transgressores e extremamente apaixonados pelo ser humano, especialmente o ser humano em sua forma mais potente e pura: as crianças.
Seguindo a sombra desses gigantes, busco compreender o que é ser professor. Tenho certeza de que o título de doutor ou mestre não me torna um professor — apenas me faz professor. Para ser um professor há um processo árduo a percorrer. E quero muito, ao final dessa jornada, ser digno desse título.
Por isso comecei a lançar esta série de diálogos que travo com uma I.A. generativa (ChatGPT 4o). Pedi, no prompt, que ela fosse ousada, crítica, provocativa, criativa e brilhante. Também orientei que abandonasse seu modo bajulador e me confrontasse com posições incômodas. Em um trabalho de cocriação, estou publicando com ela os textos desta série que criei.
Hoje, é iminente a pergunta: para que serve um professor universitário no processo de ensino-aprendizagem diante de uma I.A. generativa cada vez mais avançada?
O que, do ofício do professor, não pode ser substituído por uma I.A.?
Quais competências e habilidades preciso desenvolver para complementar a I.A.?
O mais interessante é que esses gigantes da educação que mencionei já nos deram essas respostas, sem sequer imaginar o que seria uma inteligência artificial.
Tenho o compromisso ético de ser um guardião do tempo do aluno e de não desperdiçá-lo. E também de não desperdiçar o meu tempo. Quando reúno um grupo de pessoas, em uma sala de aula, durante 100 minutos, para uma aula meramente expositiva, não há garantia de aprendizagem — no máximo, há uma boa aula. Ensinar não garante aprender. E, se depois de 100 minutos os alunos não aprenderem o que foi discutido, terá sido um desperdício de vida para todos os envolvidos.
Por isso, busco encontrar o tempo de Kairós: o momento oportuno, o tempo da experiência vivida, da percepção, da ação — o tempo da vida.
E é por isso que publico essas conversas provocativas, na esperança de levar todos a refletirem:
"Não é a tecnologia, desenvolvida por pessoas, que está substituindo o humano. Somos nós mesmos que abandonamos nossa humanidade para nos transformarmos em máquinas orgânicas. A máquina só é capaz de substituir aquilo que não é humano."
KHAOSLAB
Laboratório multidisciplinar dedicado a explorar e compreender as incertezas do futuro!
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